O vírus sincicial respiratório (VSR) é uma das principais causas de infecções respiratórias em crianças pequenas, especialmente nos primeiros dois anos de vida. Ele é responsável por cerca de 80% dos casos de bronquiolite e por aproximadamente 60% das pneumonias nessa faixa etária. Estima-se que praticamente todas as crianças serão infectadas pelo VSR até os dois anos, mas a infecção pode variar desde quadros leves até situações graves, que demandam hospitalização.
A carga da doença é bastante significativa. Estudos mostram que uma em cada cinco crianças precisará de atendimento médico ambulatorial por VSR, e uma em cada cinquenta será hospitalizada no primeiro ano de vida. Em escala global, o VSR é responsável por cerca de 2 a 3 milhões de hospitalizações e entre 60 a 120 mil mortes por ano em menores de cinco anos. Mais de 95% dos casos graves e óbitos ocorrem em países de baixa e média renda, como o Brasil, o que reforça a importância da prevenção nessas regiões.
A sazonalidade do VSR varia conforme a região do Brasil. Antes da pandemia de COVID-19, observava-se que os surtos ocorriam predominantemente nos meses mais frios e úmidos. O pico geralmente acontecia em abril nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste, em maio no Nordeste, e em junho no Sul. Em regiões tropicais, a atividade do vírus pode se estender durante todo o ano ou apresentar dois picos sazonais, um na primavera e outro no outono.
⚠️ Embora o VSR possa acometer qualquer criança, alguns grupos apresentam risco maior de desenvolver formas graves da doença. Isso inclui os bebês menores de 6 meses, especialmente entre 1 e 3 meses de vida, e prematuros, que têm menor transferência de anticorpos maternos. Além disso, crianças com doenças pulmonares crônicas da prematuridade, cardiopatias congênitas, síndrome de Down, imunodeficiências, doenças neuromusculares, fibrose cística, anomalias das vias aéreas ou erros inatos do metabolismo também apresentam maior vulnerabilidade.
👶 Outro ponto importante é que bebês hospitalizados por infecção pelo VSR têm maior risco de desenvolver sibilância recorrente e asma ao longo da infância, o que reforça ainda mais a necessidade de estratégias de prevenção eficazes.
As medidas preventivas básicas incluem a higiene das mãos, limpeza de superfícies e ambientes, e o afastamento de pessoas com sintomas gripais. No entanto, essas ações isoladas não são suficientes para conter a disseminação do vírus, especialmente entre os mais vulneráveis.
💉 Até recentemente, a principal forma de prevenção medicamentosa era o uso do palivizumabe, um anticorpo monoclonal administrado mensalmente durante a temporada de circulação do vírus. Apesar de eficaz na redução de hospitalizações, seu uso é limitado devido ao alto custo, à necessidade de múltiplas doses e à indicação restrita a grupos de alto risco, como prematuros extremos e crianças com cardiopatias ou doença pulmonar crônica.
✅ Uma grande inovação chegou com o nirsevimabe, aprovado pela Anvisa em 2023. Esse novo anticorpo monoclonal tem alta eficácia e meia-vida prolongada, o que permite a proteção com apenas uma dose durante toda a temporada do VSR. A eficácia para a prevenção do desfecho primário do estudo (infecção do trato respiratório inferior, motivando atendimento médico, comprovadamente devida ao VSR nos primeiros 150 dias após a administração do produto) foi de 70,1%. a eficácia para prevenção do desfecho secundário (hospitalização por VSR até 150 dias após a administração do produto) foi de 78,4%. Ou seja: o nirsevimabe reduziu em 70% a infeção pelo VSR e em 78% as hospitalizações nos 5 meses seguintes da sua aplicação!
O nirsevimabe atende aos critérios definidos pela Organização Mundial da Saúde para prevenção eficaz em larga escala: segurança, boa eficácia, custo viável, aplicação única e ampla cobertura.
🧬 Outra estratégia promissora é a vacina materna contra o VSR (Abrysvo), que já demonstrou eficácia em ensaios clínicos. Aplicada ainda na gestação, ela visa proteger o bebê nos primeiros meses de vida por meio da transferência dos anticorpos da mãe ao bebê durante a gestação. Estes anticorpos irão ajudar na proteção contra a bronquiolite até os 06 meses de vida do bebê. Caso a mãe tenha recebido a vacina e em menos de 14 dias tenha ocorrido o parto, o bebê não terá a proteção garantida por esta vacinação materna. Caso o bebê tenha comorbidades ou seja prematuro e tenha maior risco pela infeção da bronquiolite, o nirsevimabe está indicado, principalmente no caso de que a vacina materna tenha sido feita há menos de 14 dias do parto.
🚫 Em relação ao tratamento, não existem antivirais específicos para o VSR. Por isso, o foco está no suporte clínico e nos cuidados gerais. A Academia Americana de Pediatria orienta que o diagnóstico seja essencialmente clínico, sem necessidade de exames complementares em casos típicos. Medicamentos como broncodilatadores, corticoides e adrenalina não são recomendados de forma rotineira. Antibióticos devem ser utilizados apenas em casos de infecção bacteriana associada.
💡 Diante da importância do VSR na saúde infantil, a prevenção é a melhor estratégia para proteger os pequenos – especialmente os bebês menores e os que possuem condições clínicas de risco. Medidas como vacinação da gestante (assim que disponível) e uso de anticorpos monoclonais são grandes aliados na redução de hospitalizações e na proteção da saúde respiratória das crianças.
Com carinho, Renata Semann.
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Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Brasileira de Imunizações. Imunização passiva com Nirsevimabe para prevenção da doença pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR) em crianças. 18 de janeiro de 2024.